Arquivo da categoria: barro branco sonoro

permanência

20150910130035O projeto Barro Branco Sonoro encerra em 31 de janeiro de 2016 a missão de captar os sons do entorno do Barro Branco, oferecendo as faixas sonoras à todos os interessados, em uma parceria com a Secult BA. Acesse aqui os registros sonoros.

Num processo criativo introspectivo a partir de experiências de escuta, observação e reconhecimento da paisagem sonora, o projeto desenvolveu-se plenamente, acompanhando as forças naturais do Barro Branco. Durante o período de captação, as chuvas predominaram, marcando fortemente o experimento.  Na fase de edição, a seca e os incêndios florestais apontaram novos valores para os registros sonoros.

Os resultados podem ser acessados na seção “registros sonoros”. O site permanecerá ativo, com o material produzido disponível gratuitamente e novas atualizações serão realizadas, continue nos acompanhando!

Agradecemos à visita e às diversas contribuições recebidas ao longo do desenvolvimento desta etapa do projeto!

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laboratório

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Os experimentos de registro da paisagem sonora do Barro Branco utilizaram como fonte de energia um sistema de energia solar, composto por painel fotovoltaico de 65w; controlador de carga 20a ; bateria estacionária 70ah e inversor de potência 1000w. Com o sistema foi possível alimentar as baterias de 3 lanternas, um smartphone, um notebook, uma câmera fotográfica, um gravador digital e uma lâmpada.

Para a edição dos fonogramas foi utilizado o software livre Audacity, simples e acessível.

nota

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Em decorrência dos incêndios no Parque Nacional da Chapada Diamantina e entorno,  o término do projeto barro branco sonoro foi adiado para o final de janeiro de 2016, bem como a publicação do material produzido.

Os esforços dos brigadistas evitaram que residências fossem queimadas, no entanto, as perdas ambientais decorrentes do incêndio ainda não foram calculadas. Praticamente 100% dos locais onde foram realizadas as captações sonoras do projeto viraram chamas e cinzas, implicando novos sentidos ao registro sonoro realizado na temporada anterior ao incêndio.

Durante todo o período de fogo, a equipe do projeto uniu-se  aos voluntários e moradores no combate. Os focos de incêndio foram debelados definitivamente apenas em 03/01/2016, com a chegada das chuvas.

 

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smetak e música experimental

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Nasceu em Zurique, Suíça em 1913 (seu pai era um músico checo e, sua mãe, de origem cigana). Mudou-se para o Brasil em 1937 contratado pela Rádio Farroupilha de Porto Alegre, onde também foi professor de violoncelo do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul. Depois, Smetak mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou na Orquestra Sinfônica Brasileira, em emissoras de rádio e no teatro Municipal. Em 1952, transferiu-se para São Paulo, trabalhando em outras rádios e no Teatro Municipal. Neste período, adota o ofício de luthier, construindo e consertando violinos.

Em 1957, é convidado pelo maestro Hans-Joachim Koellreutter a participar dos Seminários de Mùsica da Universidade Federal da Bahia, contribuindo para o momento de efervescência que a Bahia viveu no mundo das artes, da cultura e do pensamento. Entre o fim dos ano 50 e começo da década de 60, Salvador vive um período que o historiador Antonio Risério denominou o ‘’avant garde na Bahia’’. Durante o governo democrático de Juracy Magalhães, e da gestão do reitor da Universidade Federal da Bahia, prof. Edgar Santos, chegaram a Salvador artistas e intelectuais da vanguarda européia, como o pensador português Agostinho da Silva, a arquiteta italiana Lina Bo Bardi, a dançarina russa Yanka Rudzka, além dos músicos nórdicos Koellreutter e Smetak.

Rudzka cria a primeira escola de dança contemporânea do país, Martin Gonçalves transforma a escola de teatro em uma das principais da cena brasileira, com montagens ousadas de Brecht, Lina Bo Bardi cria os projetos do Museu de Arte Popular e do Museu de Arte Moderna da Bahia, tornando-se sua primeira diretora, e Koellreutter e Smetak implementam os Seminários Livres de Musica e ensinam a música experimental e erudita das escolas de vanguarda européias, ao mesmo tempo em que exploram as matrizes musicais brasileiras.

Smetak deu aulas de violoncelo e improvisação na Escola de Música da Universidade Federal da Bahia. Lá , no subsolo, montou sua oficina-laboratório, onde viria a inventar e construir com cabaça, plastico, isopor e bobinas seus novos instrumentos musicais.

Em dezembro de 1966, Smetak participa da I Bienal Nacional de Artes Plásticas, em Salvador, junto a artistas como Lygia Clark e Franz Krajberg, e recebe o Prêmio Especial de Pesquisa. Em 1968,Walter Smetak naturaliza-se brasileiro (…) Ao longo de sua vida, escreveu cerca de 30 livros, três peças de tearo, ensaios e teorias.20151107110419

Smetak também criou peças raras, a partir de reflexões ligadas a Eubiose (movimento esotérico e místico que une filosofia, religião e ciência e busca desenvolver as faculdades internas e poderes latentes do ser humano para promover o equilibrio entre o corpo físico, o mental e o espiritual). Nesse sentido, alguns instrumentos foram produzidos com o objetivo de domar o ego e unir as pessoas, como no caso de “Pindorama”, um instrumento de sopro que era tocado por  28 pessoas ao mesmo tempo.

Dele, foram lançados os discos “Walter Smetak” (1974), pela Philips, produzido por Roberto Santana e Caetano Veloso, e montado por Caetano e Gilberto Gil, com capa de Rogerio Duarte. E “interregno – Walter Smetak & Conjunto de Microtons” (1980), patrocinado pela Fundação Cultural do Estado da Bahia.

Smetak recebeu a Ordem do Merito Cultural na classe de Grã-Cruz em 2007, em reconhecimento a sua contribuição a cultura brasileira, ao lado de nomes  como Cartola, Dodô e Osmar, Glauber Rocha, Grande Otelo, Helio Oiticia, Lina Bo Bardi, Luiz Gonzaga e Tom Jobim.

Em 1984,  ele faleceu em Salvador, por conta dos efeitos de um enfisema pulmonar, Em 2007, um projeto da Casa Redonda Produções viabilizou o restauro, a catalogação, digitalização e divulgação da totalidade da sua obra. O projeto Smetak Imprevisto (…) incluiu duas exposições de mesmo nome, realizadas nos MAM da Bahia e São Paulo, em 2007 e 2008 respectivamente. Graças a esta iniciativa, hoje e possivel o acesso e conhecimento da totalidade da obra de Smetak no site www.waltersmetak.com. Alem de fotos das plasticas sonoras, existem poesias, peças de teatro, registros sonoros, fotografias, partituras, ensaios e teorias.

Atualmente, o acervo que pertence aos filhos de Smetak encontra-se sobre a salvaguarda da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.(1)

(1) CENTRO CULTURAL SOLAR FERRÃO
Rua Gregório de Mattos, 45
PELOURINHO- SALVADOR/BAHIA
www.ipac.ba.gov.br | dimusbahia.wordpress. com

barro branco

A Vila do Barro Branco é um povoamento na Serra do Mucugezinho cercado por montanhas e rios, a 6 quilômetros da sede do município de Lençóis (BA). Em meio ao semiárido nordestino, resiste sombreada por um jardim cultivado ao longo de séculos e conta parte da história da Chapada Diamantina.

“Consta que a antiga Vila do Barro Branco foi um povoamento isolado na Serra do Mucugezinho, que servia de parada entre Campos de São João e Andaraí.” (Weigand). Segundo historiadores, a Serra do Sincorá e suas confluências receberam, na década de 1840, cerca de 30.000 almas e muitas delas estabeleceram-se no Barro Branco, que tornou-se uma povoação de importância para todo o território.

“Até meados do século, a Vila do Barro Branco foi um povoado que abrigou mais de 50 casas térreas, construídas de pedra e adobe e cobertas de telhas de fabricação manual (…). Os garimpeiros também utilizavam “tocas” para abrigar-se, restando evidências intactas de várias “tocas” nas proximidades.”, descreve Weigand.Barro Branco Google Earth 18_06_2015

Hoje, a vila constitui-se de um pequeno conjunto de casas e quintais e algumas dezenas de famílias. A relevância histórica e as peculiaridades ambientais do Barro Branco são reconhecidas pela comunidade e até mesmo por órgãos governamentais.

O Instituto do patrimônio artístico e cultural da Bahia (IPAC) iniciou o processo de tombamento há mais de dez anos, no entanto, nenhuma ação concreta de proteção foi realizada por órgãos públicos.

É em uma casa histórica, de taipa e adobão, que fica o estúdio principal do projeto Barro Branco Sonoro. Vizinha de ruínas de barro e pedra e de novas construções de alvenaria, a casa de Nildo é testemunha das mudanças sociais e ambientais radicais vivenciadas no Barro Branco nos últimos setenta anos.

Esse contexto, que abrange a história, a cultura e riqueza ambiental, enriquece a proposta de registro e inspira a criação do contraponto poético musical proposto pelo projeto Barro Branco Sonoro.

Proteção Legal – A Vila está inserida na APA Marimbus Iraquara e constitui-se ainda em zona de amortecimento do Parque Nacional da Chapada Diamantina. Plano de Manejo e Zoneamento APA MArimbus Iraquara – Lei municipal 457/97.

O projeto Barro Branco Sonoro agradece ao Instituto Barro Branco de Interação Orgânica (IBBIO) e à Vera Weigand pelas contribuições ao projeto.

Essa é uma postagem colaborativa. Entre em contato pelo email contato@barrobrancosonoro.com.br , envie suas fotos (e os créditos ),  histórias e documentos antigos do Barro Branco,  nos ajude a compor nosso acervo e resgatar a história local!

 

armadilhas do progresso


 
Chega a primavera e com ela a segunda fase do projeto Barro Branco Sonoro. Após 90 dias de registros sonoros contínuos durante o inverno e uma pré-seleção de arquivos é hora das intervenções e tratamentos sonoros em estúdio.

Dando sequência as postagens dos assuntos que inspiram esse projeto, abrimos para uma reflexão sobre o tema “progresso”. Na primeira fala do documentário “surviving progress”, o escritor do livro “a short history of progress”, Ronald Wright”, criador da expressão “progress trap”, em português “armadilha do progresso”, diz:

“Ao definir progresso, eu penso que é muito importante fazer uma distinção entre o bom progresso e o mau progresso. Eu quero dizer que as coisas progridem no sentido em que elas mudam. Tanto na natureza, quanto na sociedade, parece haver uma clara tendência em relação ao aumento de complexidade como processos de mudança . Acabamos nos iludindo de que essas mudanças sempre resultam em melhorias, do ponto de vista humano” (1)

 

(1)    Surviving progress, Roy, Mathieu e Crooks, Harold; 2011. ”In defining progress, I think it’s very important to make a distinction between good progress and bad progress. I mean, things progress in the sense that they change. Both in nature and in human society, there appears to be a clear trend towards increasing complexity as change proceeds. We end to delude ourselves that these changes always result in improvements, from the human point of view”.

alucinações musicais

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Após a industrialização os equipamentos sonoros tornaram-se cada vez mais potentes, portáteis e acessíveis e hoje é praticamente impossível não escutar música todo o tempo, gostemos dela ou não.
“…nos anos 1870, havia bastante música para se ouvir, mas ela não era onipresente. Era preciso procurar outras pessoas para ouvir cantos (e participar deles): a igreja, as reuniões de família, as festas. Para ouvir música instrumental, quem não possuia piano ou outro instrumento em casa tinha que ir a igreja ou a um concerto. Tudo isso mudou com o advento das gravações, das transmissões radiofônicas e dos filmes.
De repente a música passou a estar por toda parte.
Hoje estamos cercados por um incessante bombardeio musical, queiramos ou não.
Metade de nós vive plugada em Ipods, 24 horas imersa em concertos com repertório da própria escolha praticamente alheia ao ambiente e para quem não está plugado há música incessante e muitas vezes ensurdecedora nos restaurantes, bares, lojas e academias. Essa barragem musical gera certa tensão em nosso sistema auditivo primorosamente sensível o qual não pode ser sobrecarregado sem temíveis consequências. Uma delas é a grave perda de audição encontrada em parcelas cada vez maiores da população, mesmo entre jovens e particularmente entre os músicos. Outra são as irritantes músicas que não saem da cabeça, os brainworms que chegam sem ser chamados e só vão embora quando bem entendem.” (1)

1.Sacks, Oliver, Alucinações Musicais, 2007.

tempo

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Nos primeiros 60 dias de captação da paisagem sonora para o projeto Barro Branco Sonoro a chuva enriqueceu nosso trabalho: “a água nunca morre e o homem sábio rejubila-se com ela. Nem mesmo duas gotas de chuva soam do mesmo modo, como o ouvido atento poderá comprovar”. (1)

Reconhecer a chuva nos remete à geografia e ao clima, tão excepcionais à localidade eleita para este trabalho. Ainda que conte com uma rica disposição de rios e riachos, a Chapada Diamantina encontra-se no semiárido brasileiro. Os atributos que dão similitude às regiões semiáridas são sempre de origem climática, hídrica e fitogeográfica: baixos níveis de umidade, escassez de chuvas anuais, irregularidade no ritmo das precipitações ao longo dos anos; prolongados períodos de carência hídrica, entre outros aspectos. (2)

Dessa forma, recebemos as águas da chuva como um presente para os exercícios de notação dos sons e para a vivência no sertão brasileiro.

(1) Schafer, A Afinação do Mundo. 2001.
(2) Ab’Saber, Sertões e Sertanejos: uma geografia humana sofrida. 1999.

 

ecologia acústica

Em 2014, o programa Capital Natural apresentou uma conversa sobre Ecologia Acústica e sua relação com o desenvolvimento humano e sustentável. Esta relação abrange em grande parte as cidades modernas que serviram de palco para o afastamento do homem das relações essenciais com a natureza passando a se utilizar da tecnologia para dominá-la. Os convidados do programa são Marisa Trench Fonterrada – Professora livre docente em técnicas de musicalização da UNESP- e Marcelo Petraglia – Doutor em psicologia social pela USP e fundador da consultoria OuvirAtivo-. Vale a pena conferir:

john cage

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Pode-se afirmar que, no campo da música experimental, John Cage(1912-1992) foi um dos principais experimentadores do silêncio. O compositor, nascido em Los Angeles, Califórnia (EUA), é considerado o pai do indeterminismo, corrente inspirada na filosofia budista Zen (1), que rejeita os princípios convencionais da criação musical, em favor de uma abordagem baseada na improvisação e na construção aleatória de sons.

Cage verificou na câmara anecóica, em experimento realizado em Harvard (EUA), que o silêncio não é um fenômeno acústico pois dentro desta câmara ‘a prova de som’, pôde ouvir o som do seu sistema nervoso e de sua corrente sanguínea. “O silêncio não é acústico(…) é uma mudança na mente, uma reviravolta.”(2). Em sua obra mais famosa, 4’33”, o interprete fica com o instrumento sem tocar nenhuma nota por 4 minutos e 33 segundos, se levanta, agradece e vai embora. A música se faz pelos ruídos do ambiente acústico que são ressaltados pelo silêncio do músico. “Não há silêncio que não esteja grávido/ prenhe de som.”(3)

Na travessia da “Gruta do Lapão”, situada entre Lençóis e o Barro Branco, também há lugar para se ouvir. Um estudo dos topônimos da Chapada Diamantina (4), identifica a Gruta do Lapão: “Taxinomia: geomorfotopônimo Entrada lexical: lapa. Substantivo feminino e Cavidade em rochedo, gruta. Informações enciclopédicas: segunda maior Gruta de quartzito do Brasil. Possui cerca de 1.200 m de extensão. Localiza-se a 4k a NO de Lençóis. Contexto: Ao chegar no clarão da saída, o visual é fantástico. O vão se abre até alcançar 30 m ou mais de altura (…). Nas paredes, as plantas aproveitam rachaduras, fendas e pequenas minas de água para formar jardins suspensos onde a luz fraca permite o seu estabelecimento. Até as árvores crescem aqui, onde não chove e o o sol não entra diretamente(5).

No vídeo abaixo, John Cage realiza a performance “Water Walk”, em janeiro de 1960, no programa de televisão “I’ve Got A Secret.”


(1) Alan Watts, em sua obra O espírito Zen, de 1936, apresenta o Zen-budismo como a arte do desapego, de obter êxito e de bem viver e consiste na procura da iluminação através do autoconhecimento, sem a dependência de palavras ou letras, por isso dispensa teorias e escrituras sagradas. (2) HELLER: ” john cage e a poética do silencio” 2008 (3) ”john cage e a poética do silêncio” (4) OLVEIRA, Carlos Eduardo, 2006 (5) FUNCH, ”2002, in apud OLIVEIRA, 2006.